sábado, 14 de outubro de 2017

COMO AUMENTAR A VIDA ÚTIL DE SEU CAVALETE

Depois de dois anos em jejum, sem escrever neste blog, resolvi retornar à ativa. E o tema (re)inaugural é um assunto que curto muito: cavaletes de instrumentos de cordas friccionadas.

Neste texto, vamos explicar (passo a passo) todos os cuidados para que a vida útil dessa importante peça seja expandida. E isso depende basicamente de um quesito: a boa vontade, conhecimento e, principalmente, paciência por parte do músico. Considerando isso, podemos dizer sem pestanejar que a durabilidade de um cavalete pode variar de poucos meses até alguns anos.


Mas, antes dos ensinamentos, vamos entender um pouco mais sobre o funcionamento desta nobre peça. Como já foi explicado em outro texto publicado nesse blog, o cavalete não serve apenas para sustentar as cordas, mas tem, também, a importante missão de transferir a energia das vibrações das cordas para o tampo, seguindo para a alma e barra harmônica. E isso justifica a importância de o cavalete estar sempre muito bem posicionado e ajustado. Porém, por mais que ele esteja com tudo em dia, sua vibração natural e a tensão das cordas podem fazer com que sua parte superior sofra torções ou empenamento. 

A vibração natural, no entanto, é o único vilão. O simples ato de afinar também pode contribuir com a deformação do cavalete, principalmente no caso dos violinos e violas. Isso porque ao subir a afinação pelas cravelhas, as cordas tendem a puxar a parte superior do cavalete em direção ao espelho. Esse movimento, além de poder entortar a peça, pode alterar o seu ângulo em relação ao tampo, fazendo com que os pés do cavalete exerçam pressão em pontos irregulares. E isso certamente acarretará na deformação do tampo do instrumento. E o pior: com o tempo, a pressão mal distribuída, aliada a uma alma mal ajustada (ou desajustada), pode provocar trincas no tampo do instrumento.

Agora que já discorremos um pouco sobre as nocividades de um cavalete mal posicionado/ajustado, vamos aos ensinamentos práticos!


MÃOS NA MASSA – OU MELHOR, NO CAVALETE


O primeiro passo é observar aonde está posicionado o cavalete.
O local adequado é entre as marcações centrais dos “efes” (também conhecidos como ouvidos). Note que a linha superior do cavalete (aonde as cordas estão assentadas) deve estar alinhada com a marcação inferior dos “efes” (foto ao lado). 



O centro do coração deve estar alinhado com a divisória das duas peças de abeto do tampo e, consequentemente (se o instrumento tiver uma boa construção) com o centro do espelho.


Após posicionamento devemos apertar um pouco as cordas e pegar (com os dedos em forma de pinça) a cintura do cavalete. Delicadamente, devemos pressionar ele contra o tampo, de forma que a sola de seus pés fiquem totalmente acomodadas ao tampo. 

Feito isso, vamos nos atentar ao ângulo do cavalete. Isso, porém, depende muito mais da qualidade técnica do ajuste realizado pelo luthier do que pela vontade do músico em posicionar a peça corretamente.

Se a peça tiver sido bem ajustado, sua parte traseira (que é voltada ao estandarte) deverá ter um ângulo de 88º a 90º em relação ao tampo. E, consequentemente, a parte frontal (voltada ao espelho) deverá ser levemente inclinada com um ângulo mais aberto.

Caso esteja fora desse padrão, não force a peça na intenção de obter essa inclinação (de 88º a 90º em relação ao tampo). Esse procedimento errôneo contribuirá para a má distribuição de tensão sobre o tampo, prejudicando sua estrutura, vibração e, portanto, timbre do instrumento.

O segundo passo consiste em afinar as cordas.

Sempre afine uma de cada vez, começando seguindo a seguinte ordem: Sol, Lá, Ré e Mi. Dessa maneira, as cordas puxarão o braço de uma forma mais equilibrada, evitando torções causadas pela tensão. Afine uma de cada vez e, antes de passar para a corda seguinte, confira se todas as demais (que já foram afinadas) estão com a afinação correta. Caso não esteja, corrija a afinação antes de passar para a próxima corda. Esse cuidado evitará o rompimento da corda Mi durante o processo.

A pós afinar cada corda, averigue se o cavalete está inclinando sentido ao espelho. Para isso, observe se a parte traseira dos pés estão levemente levantadas. Se tiver, pela cintura, pressione o cavalete contra o tampo de forma que os pés voltem a ficar totalmente encostados ao tampo. Importante: sempre que for segurar a cintura do cavalete, tome cuidado como seu quadril. São extremamente frágeis e praticamente "imploram" para serem quebrados!

O terceiro – e último - passo incide sobre analisar a linha superior. Ao observá-la por cima, ela deve estar reta. Se tiver em forma de “S” ou deformada, estabilize o cavalete apoiando os dedos polegares na cintura. Com os indicadores, corrija a linha superior. 

E pronto! Com esses cuidados, seu cavalete terá uma vida mais longa e próspera, preservando tanto a estrutura do instrumento quanto à qualidade de seu timbre!

(Procure sempre saber a escola e conhecer os trabalhos de seu luthier)


terça-feira, 20 de janeiro de 2015

OS VERNIZES E SUAS CARACTERÍSTICAS

Embora existam controversas, muitos estudiosos acreditam que o segredo dos instrumentos Stradvarius está em seu verniz. Opiniões à parte, o fato é que o acabamento tem uma grande importância no resultado final do timbre dos instrumentos de coras, principalmente os acústicos.
Neste texto abordaremos sobre os três principais tipos de vernizes utilizados tanto por fábricas quanto por renomados luthiers. São eles: os industriais sintéticos (à base de poliuretano ou poliéster), o óleo e a goma-laca (no Brasil as mais utilizadas são a nacional e a indiana).


SINTÉTICOS

Esse tipo de verniz é geralmente feito a base de poliuretano ou poliéster (ambos derivados do petróleo). São muito utilizados por instrumentos industrializados. O motivo é a facilidade de preparo e aplicação. Esses vernizes são os menos indicados pelo fato de eles diminuírem a potencialidade vibracional dos instrumentos, deixando o timbre mais fechado.

Bastante resistente, o poliuretano também é utilizado em pintura automotiva. Portanto, não é errado dizer que instrumentos que recebem esse tipo de acabamento podem ser limpados com cera automotiva. Porém, cuidado! Certifique-se de que o verniz é realmente a base de poliuretano ou poliéster. Caso contrário, o acabamento e a sonoridade do instrumento poderão ser comprometidos.

Por mais que o verniz seja sintético, é sempre importante ter muito critério ao limpá-lo. Já ouvi relatos de uma amiga violinista - e das boas - que percebeu uma alteração no timbre de seu instrumento (cujo verniz é à base de PU), após aplicar cera automotiva. Para evitar eventualidades como essa, a dica é aplicar o minimo de cera possível. Uma fina película é mais do que suficiente para remover o breu e gordura do instrumento.

Outra dica é comprar uma cera com baixo teor de solvente. Lembre-se que esse produto é abrasivo e muitas aplicações seguidas podem prejudicar até mesmo os vernizes sintéticos. 


À BASE DE ÁLCOOL

Há uma infinidade de receitas de vernizes à base de álcool, também conhecidos como "espíritos". Muitas incluem diversos tipos de plantas, resinas, âmbar e até minérios.
No Brasil os mais populares são a goma-laca indiana e a resina da pinho do pará, também conhecida como goma-laca nacional. Esse tipo de verniz, bastante utilizado por luthiers, permite a respiração da madeira, além de proporcionar um belo acabamento.

Porém, os vernizes à base de álcool requerem cuidados especiais, pois são delicados e podem facilmente sofrer com variações climáticas. Em locais muito úmidos e com alto teor de salubridade, como Santos e região, é sempre importante conferir se o instrumento não apresenta marcas de bolor ou, mesmo, mofo.

Esse tipo de verniz não deve ser mantido com ceras industriais. O ideal é que seja limpo apenas a seco. No máximo pode-se utilizar um algodão com poucas gotas de óleo de amêndoas ou de nozes.


ÓLEO

Os vernizes à base de óleo estão entre os mais indicados e utilizados por luthiers. Eles garantem um belo acabamento, bastante brilhante e que revela toda a beleza da madeira. O óleo não é utilizado por violinos industrializados pelor causa da demora de secagem e pelo seu processo de aplicação ser artesanal. 

Assim como a goma laca, esse tipo de verniz permite uma boa vibração do instrumento, garantindo um timbre aberto. A vantagem é que ele é mais resistente às intempéries do que os vernizes à base de álcool. 
Pode ser higienizado a seco ou com óleos específicos. 

(Procure sempre saber a escola e conhecer os trabalhos de seu luthier)


segunda-feira, 30 de junho de 2014

MADEIRAS ALTERNATIVAS

Este texto é dedicado aos músicos mais nacionalistas e que não se importam com a tradição quando o assunto é construção de instrumentos de arco.

A proposta é apontar as madeiras brasileiras que podem ser substitutas de alta qualidade e desempenho às tradicionais espécies utilizadas nestes instrumentos: ébano, boxwood, ácero (maple e átiro) e abeto (também conhecido como spruce).

Para isso, elaboramos uma copilação de vários estudos nacionais e internacionais sobre diversas caraterísticas relevantes de madeiras de todo o globo, como ressonância, densidade, velocidade de propagação do som, elasticidade, grã, mecânica, resistência entre outras.

O resultado é que a biodiversidade brasileira - a mais rica do mundo - de fato guarda verdadeiras jóias sonoras, desde que trabalhadas corretamente.


CASTANHA DE ARARA, SORVA E MARUPÁ

A marupá já entrou no gosto popular, apesar de ser uma madeira estéticamente sem graça. As três madeiras que nomeiam essa retranca podem ser utilizadas no tampo de violinos, violas, violoncelos e contrabaixos sem receios. Assim como o abeto elas possuem grã direita e textura média.  

A densidade das madeiras nacionais é bastante próxima à das tradicionais. Enquanto as variedades de abeto oscilam entre 0,40 e 0,43 g/cm³, as exemplares nacionais substitutas variam entre  0,38 e 0,39 g/cm³.

As brasileiras Faveira Tamboril e Morototó também são boas escolhas para o tampo.

É importante lembrar que o processo de corte, tratamento e contrução de instrumentos feitos com as madeiras nacionais alternativas devem receber um tratamento diferenciado, analisando questões físicas e mecânicas para que o resultado final seja satisfatório.
  

ANDIROBA, AMAPÁ DOCE E TACHI-PRETO FL

Essas madeiras são verdadeiras coringas, podendo ser utilizadas em várias partes de um violino, como o fundo, faixas laterais, braço e cavalete.

Elas substituem com excelência (desde que trabalhadas com respeito e atenção às suas características particulares) o ácero, sugar e rock maple, cujas densidades variam de  0,50 a 0,63 g/cm³.

IPÊ, CORAÇÃO DE NEGRO E JACARANDÁ

Esse forte trio de madeiras nacionais podem subsituir o apreciado ébano e o boxwood, na confecção de espelhos, estandartes, cravelhas, pestanas, e pinos.
Resistentes e de alto valor estéticos, são ótimas opções.